domingo, 18 de setembro de 2011

Não há vagas!





O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão.
 
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
 
– porque o poema, senhores,
está fechado: “não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
 
O poema, senhores,
não fede
nem cheira.


Autor: Ferreira Gullar.


OBS: O poema está sem vírgulas e pontos, pois, são muitas contas e não há tempo para pausas!

Nenhum comentário:

Postar um comentário